quarta-feira, 25 de julho de 2007

Artes: A periferia no comando



Exposição faz um recorte da estética dos subúrbios e constrói diálogo com a cultura elitista dos grandes centros

Talles Colatino
Especial para o Caderno C

A exposição Estética da periferia: diálogos urgentes, projeto da pesquisadora Heloísa Buarque e do cenógrafo Gringo Cardia, tem início amanhã, no Museu de Arte Moderna Aluísio Magalhães (Mamam). O objetivo é fazer um recorte da estética dos subúrbios da cidade e construir um diálogo direto com a cultura elitista dos grandes centros. Para isso, uma equipe de profissionais, professores e estudantes reuniu fotos e objetos nas áreas de arquitetura, design, artes visuais e moda produzidos na periferia do Recife.

A coordenadora do projeto – que teve sua primeira edição no Rio de Janeiro, em 2005 –, Heloísa Buarque, acredita ter Recife uma das periferias mais importantes do Brasil. “Aqui existe uma periferia poderosa, que fez história com o manguebeat e, com ele, se projetou nacionalmente”, afirmou a pesquisadora, que considera os subúrbios recifenses, cariocas e paulistas os mais representativos.

Iniciado no Recife em um seminário realizado nos dias 2 e 3 de maio, na Livraria Cultura, o projeto teve seqüência com o mapeamento das produções da periferia da cidade. “Como Heloísa e eu tínhamos sobre Recife um ‘olhar estrangeiro’, precisávamos do seminário para nos dar uma visão panorâmica da produção local”, comentou Cardia. Quem divide a curadoria com Gringo Cardia é o designer pernambucano H.D. Mabuse.“Convidamos Mabuse para ajudar na seleção e coordenar os grupos que coletaram o material daqui”, completou.

Cardia também trabalhou na exposição do Rio e, quando questionado sobre as diferenças no trabalho das duas cidades, aponta a inventividade da cultura dos subúrbios da capital pernambucana. “A criatividade encontrada no Recife é fantástica. A cidade tem uma periferia politizada e constrói sua identidade somando a estética do contemporâneo aos elementos da cultura de raiz. E o resultado é uma grande diversidade nas artes, principalmente na moda e no design de objetos”, ressaltou Cardia, que se mostrou encantado com a arte ambulante da cidade. “Existem muitos veículos com um design interessante. São carros, bicicletas, carroças que reafirmam a riqueza artística daqui.”

A exposição vai contar com ambientes que exploram a estética da periferia de uma maneira interativa. No andar térreo do museu, no salão de grafitagem, haverá um palco onde grupos de dança poderão se apresentar, agendando com a secretaria do Mamam. Outro espaço interessante é um lounge, decorado com materiais recicláveis de diferentes texturas e um altar com imagens de santos, que conta com DJs para comandarem o som.

Um salão de estilo está sendo montado no primeiro andar do museu e vai apresentar manequins com looks recifenses e cariocas. No segundo andar, dividindo espaço com o salão de design, haverá uma exposição da fotógrafa Bárbara Wagner sobre Brasília Teimosa.

Será editado um catálogo com mostra de todos os participantes do evento e uma compilação de textos dos seminários apresentados no Rio de Janeiro e Recife.“A idéia do catálogo é que, no final do projeto, se tranforme em um livro sobre estética da periferia”, disse Cardia.

A coordenadora do projeto, Heloísa Buarque, enxerga no Recife uma valorização popular em torno da produção artística dos subúrbios. “Talvez pela cultura do artesanato que é bastante forte”, analisou a pesquisadora. “A arte da periferia traz um frescor às tendências artísticas de uma forma geral. É uma estética que aparece com linguagens próprias para se firmar e ficar”, completou.

Como o próprio nome sugere, a exposição se propõe a criar um diálogo entre a periferia e o centro da cidade. E um diálogo urgente. “É preciso valorizar a produção dos subúrbios, como uma forma de quebrar as barreiras culturais e sociais que imperam nos grandes centros urbanos”, lembrou Cardia.

» Mostra Estética da periferia: diálogos urgentes – De amanhã a 26 de agosto, no Museu de Arte Moderna Aluísio Magalhães, Rua da Aurora, 265, Boa Vista, fone: 3232-1694. A entrada custa R$ 1.


Fonte: Caderno C (Jornal do Comércio)

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